Abraço se aprende? Dizem que o ato de abraçar nasceu na Itália, na época dos mafiosos, como uma forma de certificar se a outra pessoa estava com a intenção de armar alguma coisa, pode ser..
Não desacredito, é bem provável que nesse período o abraço tinha por fim o poder avaliativo, como um diagnóstico de estima por alguém. Por um lado, se partirmos da premissa que o corpo fala, independente das palavras, fica mais fácil de ter uma certeira percepção. Os gestos do corpo são involuntários. Tente lembrar de alguma vez que você tenha tido a Disposição de abrir os braços para abraçar uma pessoa que não lhe agrada.. eu não lembro de uma única vez sequer! O simples abrir de braços para com outra pessoa, é de um grande sinal de afeto revelado. De carinho. Admiração. E no mínimo, consideração.
E por mais que uma pessoa possua uma polida educação, ou seja exemplo de cortesia, ainda assim, não acontecerá o gesto do abrir de braços. Falo de uma real Disposição para tal. Salvo em alguns momentos, como natal, velório ou até mesmo confraternização no ambiente de trabalho. Nestas horas você encontra-se quase encurralada e faz a social, num exemplo vivo de sórdida compaixão.
Mas quem sou eu, para falar em abraço? Não tenho esta referência.. Quando se cresce dentro de um ambiente familiar onde o máximo de uma suposta demonstração de afeto é dada com apenas um aperto de mão no dia de seu aniversário. O termo "minha filha" também é algo distante. "Parabéns pelo seu aniversário kuki/aperto de mãos/as vezes um presente/nada mais!". E quando era assim, era um aniversário de amor! Sentia uma leve estranheza lá no fundo da'lma, bem escondida, dentro de minha incapacidade de discernir algo que desconhecia. O abraço. Talvez isto explique a minha dificuldade em Retribuir um abraço com a mesma intensidade, não falo propriamente de força física. Certo dia, há uma semana, uma amiga me fez pensar sobre tudo isso, quando soltou que o meu abraço era por demais alemão. Como assim??
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Agradeço-a, por descobrir que estou aprendendo a lidar com esta demonstração de afeto. Como uma criança que está aprendendo a caminhar. Seria eu uma ostrinha, filha de uma ostra? Com abraços presos & guardados na'lma? Nem me estendo sobre o "eu te amo". Seria bem mais difícil. Na verdade, quase impossível! Porém, algo conforta-me um pouco. Uma mistura de conforto com algum outro sentimento que não consigo definir, mas chega a confortar de certa forma. Ainda falando em família, consegui o que não me foi ensinado. Atrasada, mas soltei, sem constrangimento algum.. um "eu te amo", ao ver meu pai pela última vez, ali, naquela situação, e talvez o espírito dele estivesse naquele momento a assistir a liberação de meus abraços contidos de toda uma vida. E enquanto eu estiver por aqui, carregarei comigo este meio conforto.
Abraço.. venho exercitando em minhas felinas. Grandes Disposições. De onde venho, as pessoas cumprimentam-se com apenas um beijo no rosto, de leve. Dois beijos são vistos com estranheza por lá. Cultura européia, que me re/dePrime. Cinco coisas maltrataram-me quando estava ausente do Rio.. saudades de minha família de gatos, dos amigos, das rochas da cidade, do Sol e do abraço carioca!
Como ficaria a minha situação na época da máfia?
*meraspalavrasdedesabafo
kS, 23-1-2014
Fotografia by Ana Araújo.