terça-feira, 19 de abril de 2011

Schmetterling

De todas as ruas por onde ando, tem uma que me é mais fonte inspiradora. Sempre que estou a caminhar pela rua Jardim Botânico, naquele trecho do muro que parece não terminar nunca... É ali... nessa rua, onde venho tendo inspiração, onde encontro os transeuntes mais inusitados. Inusitados porque nem todo mundo têm a disposição para percorrer aquele extenso muro, caminhando. Essa semana uma das transeuntes a cruzar por mim foi uma senhora, via-se que era evangélica de longe... Ao aproximar-nos constatei pela bíblia em seu braço, como a segurar um bebê no colo e com uma camiseta com os dizeres: "Sou Natural'' e aquela imensa folha de marijuana. Camiseta essa, provavelmente de um filho, neto ou passada de alguém para alguém...
Continuei a caminhar, num riso incontido, Deus é Natural... 
E se passei pelas ruas de face séria, uma borboleta me salva, despertando-me um imenso & delicado sorriso interno que escapou pela dupla de íris. Uma borboleta amarela, tão amarela como o sol que apareceu hoje. E pensei em quanto tempo não sou mais visitada por elas em minha varanda. Por vezes, entravam dentro de casa para alvoroço de minhas felinas. E a contemplação passava a ser salvamento. De todos os insetos que decidem dar o ar de suas graças em visitas rápidas, as vezes permanecem, venho sentindo saudade das Schmetterlings. E pensar que seu tempo de vida com asas é de três meses, se tiver sorte. Três meses do calendário. Um instante. E se aparecem macacos, beija-flores, passarinhos e alguns insetos que preciso saber os nomes, delas que sinto mais saudades. Aquelas grandes & azuis, tão raras como o seu aparecimento. Já acordei com uma borboleta azul pousada em meu travesseiro, velando o meu sono. Essa teve sorte & não. Sorte de minhas felinas estarem dormindo e não sorte porque eu dormindo não poderia a salvar. Abri os olhos, acordei e ela ali. Dividindo travesseiro, das azuis. Lembro de minha avó falando das schmetterlings desenhadas nas paredes em Auschwitz, denotando a ânsia por liberdade, a bela liberdade. De uma forma ou de outra.
E após ver a borboleta amarela, logo a frente, uma folha de jornal ao vento, cai ao chão, com o título em letras garrafais: ''QUEM PROCURA ACHA''. Quem busca encontra, pensei. Essa soa melhor. Preciso sair do casulo.Voar um pouco por aí... Preciso, mas não venho sentindo essa vontade. Como se faz para sair de um voo interno? Saio do trabalho, sinto uma vontade imensa de caminhar a esmo, mas sigo para casa. Passo defronte o garota da gávea, Seu Píres e demais bares... vejo pessoas, muitas e várias sorrindo, alegres por alegres & alegres pelo efeito do álcool. Numa atmosfera de felicidade momentânea. Talvez estejam felizes... Me bate uma percepção e sinto mais vontade ainda de ir para casa. Ando apática. Não sei também se é exatamente isso. Lembro que tenho uma família de felinos esperando-me em casa & um caderno com algumas páginas ainda em branco. E se não ando voando por aí, nisso encontro minha maior satisfação. Escrever. Meu voo é interno. 

kS, 23 julho/2010
Rio

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